segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Disrupção, ansiedade e a inovação transitória

Nada é mais antigo do que a busca por algo novo. Este início do milênio está avassalador sob o ponto de vista da geração de novidades. Basta uma piscada de olhos e algo novo surge. O ritmo está tão acelerado que é bem possível que estejamos submetidos a inúmeros casos de inovação transitória. O novo ou a novidade não resiste por um ano. E é aqui que, sob o meu ponto de vista, está aquilo que poderá ser um problema. 

Quase tudo, hoje, é apresentado para que tenhamos a sensação de que estamos evoluindo, progredindo. Essa sensação nos estimula de tal forma que quase temos a certeza de que isso é prático. Explico. Boa parte, ou até a maioria, das novidades que realmente nos beneficiam são precedidas e sucedidas de uma experiência de consolidação. A precedência como sensação de evolução é importantíssima para controlar nosso anseio pelo futuro, com a ansiedade controlada aproveitamos a experiência e colhemos frutos disso. Os frutos são a base do que vai suceder, em uma nova etapa ou novo produto, a experiência anterior propiciando que o progresso ou evolução seja assimilado e aceito no seu curso regular. 

Hoje vivemos a interrupção desse curso natural ou, usando o termo da moda, a disrupção do processo de consolidação. Isso está, sob meu ponto de vista, errado. A disrupção não provoca evolução. A disrupção provoca o rompimento do ciclo, e nem todo o ciclo deve ser contestado. O resultado de incentivar a imprevisão disruptiva em tudo é que assim se provoca o estado de caos na assimilação das coisas novas, propiciando a inovação transitória. Coisas essas que se tornam obsoletas no curto prazo como se fossem parte de um frenesi de ideias nem um pouco úteis para a evolução e o progresso real. 

Os termos que submetem os tempos são sempre excitantes. Já quebramos paradigmas e fizemos reengenharia. Agora temos a disrupção como termo de interferência no tempo de maturação ou, no sentido menos original, na definição do que deve morrer antes de ser consolidado como experimentado e, assim disruptivos, nos tornamos ansiosos no processo e não pelo processo e, tampouco, pelo resultado. A fragmentação destes conceitos torna nosso mecanismo de escolha menos sensorial e mais suscetível a imposição do externo em detrimento ao interno. E, desta forma, obtendo como um efeito secundário do marketing dos novos termos nossa submissão ao processo e não ao resultado. 

Agora imagine essa loucura na condução de um empreendimento. Imagine uma empresa sendo disruptiva com seus negócios. Interrompendo ciclos de criação de produtos e interferindo nos meios de pesquisa e desenvolvimento ou nos procedimentos de controle de qualidade ou nas negociações de contratos fechados. Nada disso se mostra promissor. Uma agenda disruptiva, como foi com a quebradeira de paradigmas ou com a reengenharia das estruturas organizacionais, deve ser delimitada por um estudo completo sobre o engessamento de pontos específicos da gestão visando atenuar ou eliminar esses gargalos formais ou informais. 

Conte comigo para criar uma agenda positiva e disruptiva benéfica para o empreendimento!