É do saber notório e popular a noção (verdadeira) de que quem manda em nosso negócio é o cliente. Essa definição é fruto da certeza absoluta, inexorável e irrefutável que o mercado é quem determina se eu manterei ‘as portas abertas’. É o mercado quem determina isso simplesmente porque se o cliente deixar de consumir o que ofereço eu desapareço como negócio. Fácil. Muito fácil entender isso.
Mas a certeza absoluta, inexorável e irrefutável do parágrafo anterior não tem o mesmo impacto quando me refiro à empresa. Tenho a forte suspeita, quase uma convicção, que nesse contexto prevalece uma noção (falsa, errática) de que o mercado não tem o mesmo poder com relação à vida da empresa. Parece que a circunstância (im)permanente de ter uma empresa registrada com contrato, CNPJ, alvará e todas as outras coisas estabelece uma condição de independência ao cliente. Eu percebo, às vezes, como sendo duas entidades separadas, quase divergentes, onde uma coisa é o “negócio” outra coisa é a “empresa”. Compreenda que isso é um erro, é claro.
Podem coexistir ou deixar de existir diversas empresas registradas para o negócio ou diversos negócios para uma empresa registrada, mas sempre, sob o ponto de vista da gestão e decisão, serão a mesma coisa. Serão o mesmo negócio. Serão a mesma empresa. Enfim, serão o mesmo empreendimento enquanto ‘as portas permaneçam abertas’. Não esqueça disso. É extremamente importante para o seu sucesso. Empresas registradas com contrato e CNPJ podem ser abertas, alteradas e extintas. Negócios podem se tornar obsoletos, decadentes ou fora de moda. Mas o empreendimento é a soma de tudo e do todo, pois ele reflete mais do que a empresa e o negócio, ele representa ou significa o conceito de quem o criou ou de quem o administra e, em alguns casos, é quase impossível distinguir um do outro.
Volto ao meu tema (publicado na primeira parte desta série), no instante onde a questão “Quem manda em mim?” já estava resoluta, comecei a ter outro questionamento que emergia durante as reuniões que participava “Quem manda em você?” Era um pensamento mais tranquilo e que apontava para uma condição nova, pois aquela faceta inovadora e criativa que surgiu me fez ver que, sob um ponto de vista, todos precisamos ter a quem prestar contas. Isso torna mais rigorosa nossa atuação como gestor, torna mais efetivo nosso processo decisório (esta pergunta “Quem manda em você?” tem uma ligação muito intensa com os parágrafos anteriores dessa postagem).
Evidente que a condição de mandar não faz referência a designar tarefas ou obrigações, mas continua no sentido de prestar contas. Percebo que isso seja como um interruptor para uma lâmpada onde o funcionamento é liga / desliga, sabemos que a eletricidade está ali, mas a alimentação elétrica pode ser interrompida ou acionada para obter uma nova condição no ambiente. E o ambiente, no caso que descrevo, é a visão de negócio. A gestão e a decisão estão habilitadas e sendo praticadas, mas podem ser momentaneamente substituídas por outra função. Uma função que impulsione a avaliação das ações executadas e confronte com os resultados obtidos. Uma função que cause o desconforto necessário para sacudir aquela sensação de acomodação, que a zona de conforto do poder estabelece, e ofereça caminhos ou conselhos que facilitem e fortifiquem a capacidade de gerir e decidir tão necessários no cotidiano. Uma função que coloque a condição de debater pontos específicos, que possibilite obter informações, que permita questionamentos, que fomente a busca por melhorias e melhores resultados.
Essa é a essência da prestação de contas que concebo como sustentação da pergunta “Quem manda em você?”